segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Não sejamos rótulos.

Vamos ser bula.
Com todos as reações quimicas,
A tarja preta
E muitos, muitos efeitos colaterais.

Quero ser com você, meu delta menos... E eu não me contento com uma simples aspirina... Eu quero ser prozac, quero ser gardenal, quero ser lexotan...
Fabula da goma de mascar


Era uma vez um menininho normal. Ele tinha pai e mãe, gostava de assistir desenho na tv, ia para a escola, jogava bola no quintal com os vizinhos, reclamava as vezes de tomar banho e de comer as verduras.
Um dia como todos os outros, nem tão quente, nem tão nublado, esse menino ganhou um chiclete de tuttifruti. Não importa quem deu, quais foram as circunstancias, quanto custou, qual era a marca... O que realmente importa é que o menino nunca havia colocado um daqueles na boca. E ficou feliz por realizar aquela nova experiencia. Já havia visto tantas pessoas nas novelas, nas ruas, no clube mascando e sempre tivera grande curiosidade pra saber como era aquilo, como não derretia na boca, por quanto tempo o gosto permanecia, se era refrescante, qual era a consistencia...
Com os olhos fechados, abriu a embalagem e colocou o quadradinho cor-de-rosa na boca. Primeiro esperou e não mexeu a lingua. Depois sentiu todos os cantos, todas as nervuras... Começou a salivar de leve... E só então, moveu o maxilar para morde-lo. Mordeu. Sentiu suavemente a textura emborrachada, o gosto começou a se espalhar.
Começou a mascar, o movimento mais mecanico e impensado de prensar a massa contra os molares... Mas após alguns segundos, uma coisa horrivel aconteceu. Uma coisa que marcaria para sempre a existencia daquele menino. Por um erro de calculos de seu cerebro, o menino mordeu a lingua.
A dor foi horrivel. O musculo solitario por um instante foi a unica coisa viva e pulsante dentro de seu corpo. Formigou. Seus olhos se encheram de lagrimas. De repente percebeu que aquele negocio dentro de sua boca e que havia causado a má sensação já não tinha o mesmo gosto adocicado. Sentiu raiva, decepcionou-se, achou que tudo aquilo que já haviam lhe dito era mentira, chiclete não era gostoso.
Cuspiu na hora a goma no chão da calçada. Alguma sola desavisada provavelmente pisaria nela em questão de minutos, mas não importava. O menino não queria mais saber do chicle. Nunca mais.
O trauma o perseguiu pelo resto da vida. Nunca mais colocou um daqueles entre os dentes, não se interessou pelos outros sabores, nem pelos recheios, nem pelas embalagens chamativas. O menino nunca mais mascou chiclete.


Moral da história: Ele nunca aprendeu a fazer bolas com o chiclete.


Não tente dizer que palavras eu devo ou não escrever. Eu tenho licensa poetica.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Mãe,

não há na face da Terra
Entre 6 bilhões de pessoas
Mesmo com tantas mulheres
Nem eu, nem ninguém
Que faça qualquer sombra ao seu brilho
Que chegue a seus pés

Você é a melhor de todas as pessoas desse mundo.


E eu nunca vou poder pagar tudo que você faz pra mim, nem saber expressar o quanto eu a amo.
Revanche a quatro mãos

A foto dele estava amassada, jogada na cama sobre uma pilha de lenços de papel usados. E ao olhar novamente para dentro do quarto, sentiu mais repugnância da imagem sorridente do que de seus fluidos corpóreos. Era mais do que ódio, era decepção, traição. Era mais do que decepção, traição, era ódio. Ódio mais puro. Profundo como o amor, rubro como o amor, passional como o amor. Mas muito mais mortal.
O som tocava alto, como um grito de raiva, como se as caixas de som fossem os seus pulmões. A musica frenética acompanhava o ritmo de seus pensamentos. "Fazer as unhas, comprar adoçante, esconder o corpo e limpar minhas impressões digitais."
Ele merecia, era sua culpa, só sua. Não, a culpa era dela. Ela queria essa culpa, queria que todos soubessem, que comentassem pela cidade. Queria que dissessem que ele fez por merecer, mas que ela estava errada, ela queria estar muito errada, porque sabia que estava certa. Porque fez o que seu coração mandou, porque era mulher e não era fraca. Porque o amor tornou-se ódio tão rapidamente que ela não pode conter.
E a música ao fundo acenava sorrindo:
"
Não, não diga não
Mil vezes não
Não faz assim
Não me magoe
Não me despreze
Não me abandone
Senão eu rezo
Senão não durmo
Senão te pego
Senão te bato
Senão te mato
Posso arrancar todos seus dentes
Te amarrar ao pé da cama
Posso te amar loucamente
Até seu corpo apodrecer
Apagou o interruptor. Seus olhos agora eram olhos de super-heroina movida por uma missão civilizatória. Podia ver tudo mesmo no escuro. E seus ouvidos podiam perceber qualquer barulho que não fosse Os corações em fúria. A casa era seu território, os moveis, seus cúmplices. Ele, seu muso inspirador. Fora preciso muita inspiração e criatividade para o ato tão devastador.
E aquele sentimento de satisfação justificava tudo. Nunca mais vê-lo com outras, nunca mais o monstro paquidérmico do ciúme. A satisfação dos seus olhos suplicantes, seu peito arfando devido a respiração difícil, as lagrimas confusas com o suor... O vermelho do sangue. Isso sim é o que podia chamar de satisfação. Não aqueles orgasmos que tinha com ele, tão rápidos, tão superficiais. Agora sabia como era se sentir completa. E para isso foi preciso matá-lo.
Matá-lo, bela palavra. Somente de pronunciá-la seu corpo arrepiava-se, lembrava do seu rito de passagem.Puxou o corpo pelos pés. Como ele a enganara todo esse tempo? Como ela pode debulhar-se em lágrimas ao lembrar daqueles pés deixando sua casa, sua vida? Como pode esquecer que a solução era simples e indolor? Indolor...-sorriu- ao menos para ela...
Incrivel como aquele corpinho corriqueiro de sessenta e poucos quilos podia carregar aquele homem de mais de um e oitenta. Pensou nisso enquanto amarrava-o a amoreira do jardim, mas encontrou solução pro enigma facilmente. Freud explica.
A arvore rangeu e estalou, curiosa... Talvez não estivesse certa do destino do qual fazia parte. Ela teve, só naquele momento, uma pontada de dó no coração. As feiticeiras eram queimadas assim, porém vivas. E ela não era hoje uma delas? Sentia-se como se fosse, ao menos... E uma parte dela iria morrer queimada naquela árvore essa noite. Uma parte ruim, pegajosa, seria arrancada do seu peito com força. Mas a arvore... Pobrezinha... Ela não tinha nada a ver com a historia... Entretanto, que importava? Ela seria apenas mais uma inocente condenada pela inquisição.

O corpo em pé, amarrado à arvore, parecia prestes a gritar ofensas absurdas. Correu para dentro da casa. A despensa escura. Achou o que precisava. Álcool em gel. Maravilha do mundo moderno. Perfeito pra acender e não espalhar as chamas por todo o terreno. Afinal, prejuízo só lhe bastava os emocionais.
Riscou um fósforo. Dois, três... Aquele vento estava atrapalhando seus planos. No quarto, finalmente, conseguiu acender uma pequena brasa. A principio o fogo tímido correu somente pela substancia alaranjada. Depois a pele dele se transformou num combustível poderoso. A espera estava terminando. A cada centímetro queimado, seu coração pulsava mais intenso.
Correu para seu quarto, revirou o armário, nada seria pior do que não registrar esse momento. Achou a máquina e voltou depressa para o jardim, não queria perder seu espetáculo particular.




Abriu o álbum na primeira página, uma festa de aniversário de um amigo. Quando tiraram aquela foto, os dois ainda nem se conheciam, foi uma amiga que os apresentou. Ela estava usando uma blusa rosa esvoaçante tão bonita. Não lembrava onde estava, iria procurar direito no armário...
A primeira viagem, o dia em que foram visitar seus pais em Minas.
Colocou a última foto, sua bela redenção, afinal todos os relacionamentos acabam de alguma forma. Esse acabou como o padre os fizera jurar...
Olhou novamente todas as fotos... Gostava de recordar, mas a vida não poderia esperar mais.
Quando fechou o álbum, sentiu-se livre. A marca da aliança em sua mão já havia sumido.



Obrigada, Natália, por ter sido minha parceira nessa dança. E vocês, meros mortais, tenham medo. Porque a nossa vingança pode ser a pior de todas.

domingo, 11 de setembro de 2005

Não.

Esse não é mais um post. Não é mais um conto, muito menos um poema.
Não crie espectativas, não imagine, não se iluda. Não contarei uma história, não narrarei sentimentos, não julgarei, não sonharei.
Não haverá personagens, não tecerei um vilão, não falarei de politica, religião ou saúde. Não é colorido, nem preto-e-branco, nem invisivel. Siquer o é.
Não me estenderei por longas rolagens de tela, vários cliques ao mouse, inumeros megabytes, dados de memória ram. Não quero fundir seu tele-encefalo desenvolvido com perguntas filosóficas, ofuscar seus olhos com cliches, nem seus ouvidos com banalidades.
Não colocarei penduricalhos, não perfumarei, nem me esforçarei. Não lhe incomodarei. Não lhe informarei. Não lhe agradarei. Só tomarei seu tempo.

sábado, 10 de setembro de 2005

Eu sei que estou cercada de paredes brancas.
Eu sei que tudo além de mim está frio.
E inerte. E no infinitivo.
Se respirar bem fundo, perceberei bem sutilmente o cheiro de cloro. Mas minha pele se arrepia.
Já tentei cravar as unhas na pele, mas cada lágrima, cada soluço, cada ruga de dor em minha face está adormecida.
Corroi em mim, hoje, um novo intruso. Tão forte. Tão letal. Tão suave e soturno.
Libera em meu organismo dopamina.
Confunde meus sentidos como analgesicos. Prende-me como anestesia.
Porque eu sei bem que me machuca, que me corta... Mas permito. E ainda formiga-me os lábios, assim, quase cócegas.
Mas permito. Terei inchaço, terei restrições, terei cicatrizes... Mas permito.
Coço a cabeça numa tentativa frustrada de compreender.
E compreendo. Apesar de não crer.
Então fecho os olhos e suplico que sua persuasão me convença. Imploro. E espero.
Dessa forma, cenarios coloridos surgem. Palavras soam pseudo-ardentes (ainda estou cética). Minha boca de repente tem vontade de sorrir e de dizer as coisas mais insanas e convencionais (ainda). Por favor, eu penso, por favor, continuem, eu vou cuidar de cada ferida, eu não reclamarei de nenhuma má sensação, mas coloquem em mim esse novo sopro, eu preciso dessa esperança.
Mas o metodo é homeopático. Suspiro, pacientemente.
E a cada dia que nasce, os meus sonhos vem, as lembranças vem... E eles cada vez mais conseguem me enganar.
Um dia, eu espero acreditar.
E permito.


Meu muso inspirador foi sacudido e agora meus nós dos dedos pedem pra ser estralados.
Dedicado especialmente àquele que me sacudiu.