segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um baú. Vazio.
Todas as noites ela olhava para o objeto de madeira maciça, pesado, antigo... Aos pés da cama, às vezes esbarrava nele, no escuro, acidentalmente. Às vezes se sentava em sua tampa e olhava o céu pela janela.
Hoje, tinha os olhos fixos nele. O verniz reluzia como se fosse novo e, na verdade, não poderia ser considerado velho, pois fora pouco usado.
Acompanhava-a desde que se lembrava. Esteve ao seu lado nas noites insones e nas passagens rápidas pelo quarto, nos momentos alegres. Viu coisas que mais ninguém viu. E foi seu grande confidente.
Eram suas paredes que protegeram do mundo exterior a materialização de sua alma. Era seu coração fora do peito. Era nele que guardava cartas de amor, letras de músicas, fotos queridas, velhas fitas de cetim que um dia embrulharam presentes.
E estava vazio. Há meses. O passado tornou-se passado demais pra ser guardado em um lugar tão ao alcance da mão. O presente, entretanto, zombava-a com espaço demais. Desafiava-a e jogava em sua cara sua incapacidade de preenchê-lo.
E ela soluçava se explicando, dizendo que não era sua vontade, esteve se esforçando, mas... A vida havia conspirado para que esse vazio, tão perturbador, se estabelecesse.
E desejava, quase em súplicas, que houvesse novamente um bom motivo para usá-lo.