quarta-feira, 29 de outubro de 2008

-Alô?
-Hm... Alô?
-Oi, sou eu. Tava dormindo?
-Ahn, é... É o que eu costumo fazer as duas e meia da manhã...
[suspiros]
-Então... Diga.
-Ah, é que eu preciso te pedir um favor...
-O quê?
-Você pode vir me buscar?
-Te buscar? Onde?
-Estou aqui na avenida xis.
-Agora?
-É, sim... Você pode vir, por favor?
-Você não tem como ir pra casa?
-Não... Acabei de brigar com ela, não posso ficar... E não tenho dinheiro pro taxi...
-Não tem nenhum amigo seu que more aí perto?
-Não... Ninguém me atende... Todo mundo deixa o telefone no vibratório... Você é a única que sei que atenderia.
[suspiros]
-Não sei se posso ir... Sair a essa hora... Teria de dar uma satisfação pra pegar o carro...
-Por favor?

Alternativa A-)

Ela se levanta, troca de roupa, pega a chave e sai, com a mãe ligando atras, perguntando que loucura é essa de sair esse horário. A noite está um pouco fria e vazia. Percorre os quilometros até que rapidamente. Chega no lugar xis, mas ele não está. Liga no celular dele 7 vezes antes que ele atenda. Ele lhe responde:
-Oi. Ela desceu e me falou pra subir. Falei que você estava vindo, mas ela quis fazer as pazes. De qualquer forma, valeu.

Alternativa B-)
Ela se levanta, troca de roupa, pega a chave e sai, com a mãe ligando atras, perguntando que loucura é essa de sair esse horário. A noite está um pouco fria e vazia. Percorre os quilometros até que rapidamente. Chega no lugar xis, mas ele não está. Liga no celular dele 7 vezes antes que ele atenda. Ele lhe responde:
-Oi. Tô na esquina.
Ela dirige até lá, ele entra no carro, não conversam durantes os 5 minutos do percurso até a casa dele. Ele explica o caminho pois ela nunca havia ido até lá. Ele lhe dá um beijo rápido no rosto e desce dizendo:
-Valeu.

Alternativa C-)
Ela se levanta, troca de roupa, pega a chave e sai, com a mãe ligando atras, perguntando que loucura é essa de sair esse horário. A noite está um pouco fria e vazia. Percorre os quilometros até que rapidamente. Chega no lugar xis e ele entra no carro.
-Ai, não quero nem ver o que a minha mãe vai dizer disso... Vou ter de ouvir reclamações durante meses por sua causa.
-Desculpa. Estou tão mal, ela é tudo pra mim, não sei o que farei sem ela, ela tem de me perdoar, tentei ligar nesse meio tempo, mas ela não atendeu.... - e continua sua ladainha o percurso todo.
Explicado o caminho, chega ao destino. Antes de descer, olha para os olhos dela e diz:
-O que foi?
-Nada...
-Bom, então, valeu. - E vai embora.

Alternativa D-)
Ela se levanta, troca de roupa, pega a chave e sai, com a mãe ligando atras, perguntando que loucura é essa de sair esse horário. A noite está um pouco fria e vazia. Percorre os quilometros até que rapidamente. Chega no lugar xis, ele entra no carro. Enche o ar com cheiro de alcool. Assim que ela dá partida, desliza a mão sobre a sua no cambio até a perna.
Param em um semaforo. Ela olha pra ele. Ele se projeta a frente e a beija. Ela se surpreende nos primeiros 5 segundos, gosta nos proximos 2, se dá conta do que está acontecendo nos 3 seguintes. Ele se precipita, a envolve com gestos vulgares e apressados.
Ela se desvencilha e se recusa a parar em mais nenhum sinal vermelho. Sua vontade é abraçá-lo e deitar a cabeça em seu peito, mas não existe essa opção.
Chegam até a casa dele. Ele dá tapinhas em seu ombro e diz:
-Valeu, moça.

Alternativa E-)
-Vou ver o que posso fazer....
Desliga a ligação... Pensa por 30 segundos. Seu desejo de ir até ele é grande, fantasias se formam em sua mente sobre um possivel e positivo acertar de contas. Senti-sua-falta, fique-comigo, preciso-de-você, todas essas expressões aparecem quando fecha os olhos. Uma lagrima desliza em seu rosto. São lembranças, fatos e palavras reais, se sobrepondo a todas as ilusões. De novo não...
Pega o celular e digita não-posso-ir-.-o-metro-abre-daqui-a-pouco-.-me-avisa-quando-chegar-.-sorry-.-bjos. e envia o sms. Depois desliga o aparelho. Não dorme o resto da noite.
Na manhã seguinte, ao ligar novamente o celular, recebe uma mensagem dele e imagina, ao ler, o tom ironico que ele deve ter empregado.
'Valeu pela ajuda.'



Isso nunca será.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

(Ouvindo Santa Maria de Gotan Project)

Tira o cabo do fone de ouvido e conecta às caixas de som. Um gole de vinho. Não tem copos suficientes em casa, mas fez questão de ter taças para todos. Remexe os ombros no ritmo da música. Percorre o corredor de quatro passos até o quarto, espreme-se dentro do vestido preto e pensa 'oh, céus, preciso emagrecer'.
Ainda com a taça pela metade se olha no espelho, só um rímel está bom. Ajeita de leve o cabelo.
Vai até a sala, apaga as luzes diretas e acende os três abajures incandescentes. A temperatura de cor da sala cai. Desliza até a porta de correr da sacada e a abre completamente. Uma brisa fraca entra, faz balançar suave as persianas.
'ah, o gelo!'
Pega o celular e digita coração-,-pode-trazer-gelo-por-favor-?-vem-logo-bjo e envia. Junta todas as almofadas da casa e joga no chão da sala. Ele logo lhe responde afirmativamente.
O tango moderno a embala e ela se sente feliz. Da janela vê o carro estacionar perto da portaria do prédio. Descem três amigos. O interfone toca. 'Fala pra subir, obrigada.'
Conta alguns segundos, antes de tocarem a campainha, já está próxima a porta e pode ouvir suas vozes. Olha pelo olho mágico e gira a maçaneta.
Chovem 'ois' e beijinhos, já avisa de primeira 'vamos todos fazer a noite dos cochichos, chega de multas pelo barulho'. Todos riem cúmplices, daquela forma que amigos fazem ao se lembrar de histórias familiares.
'eu trouxe rum! Mojitos!'
'haha, você é louco. Trouxe um vinho. Aliás, taças, taças!'
A cozinha já é conhecida e se sentem livres para abrir o armário e se servirem do vinho que já está aberto sobre a bancada.
'E o que vai ser hoje? Baralho ou vamos acabar no jogo-da-verdade?'
Risadas.
O interfone toca novamente. Ela nem se mexe, as próprias visitas atendem. 'É ele'.
Mais segundos, mais campainhas. Cumprimenta os próximos três a chegarem e a ele por último. E o beija na boca demoradamente por causa da saudade. Os amigos fazem uivinhos e zombarias. Eles se abraçam carinhosamente.
'ele chegou com o gelo, êêê, por isso merece recepção tão calorosa!'
Todos estão na cozinha se servindo, apenas o casal está na sala.
O tango.
E é natural. Abraçados balançam no ritmo não cantado enquanto se olham no olhos. São senti-sua-falta e tive-saudades falados baixinhos, mãos dadas e narizes se tocando quase sem querer.
Os outros encontram desculpas para se demorarem no outro cômodo, dar uns instantes de privacidade ao casal antes de acabar com a pieguice.
Os dois acabam chegando a tal bancada em busca do tal vinho antes de serem interrompidos. Reabastecem as taças e chamam todos para a roda de almofadas.
Os amigos vão, fazendo gracinhas, já tem suas almofadas preferidas. Logo surgem frases saudosas.
'estamos velhos, bebendo vinho numa noite de sexta.'
'nos tempos aureos estariamos bebendo vodca pura antes de uma balada forte.'
Silêncio. Goles sendo tomados, conclusões sendo feitas. Pensamentos sobre do que foi feito das pessoas e seus destinos.
'Nunca fomos tão felizes.'
E concordam.