sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Condenem-me os humánitários mas a rodoviaria de Bauru é um show de horrores.
Toda vez que eu preciso pegar o ilustrissimo ônibus do Prata e chegar com sei-lá-quantos minutos de antecedencia naquele lugar, fico pensando no que encontrarei. Sentada naqueles banquinhos já esperei horas por uma vaga e já vi coisas que não fazia questão.
Dessa ultima vez, uma mulher gordinha e morena, descabelada, pedia dinheiro pra comprar pão. Eu já estava me preparando pra dizer que não tinha moedas (o que é verdade, visto a condição de universitária mal-remunerada que me encontro), quando ela olhou pra mim e, passando reto, sustentando o olhar, elogiou o meu cabelo. Simpatississima. Outra era uma mulher que distribuia lapiseiras com uma mensagem dizendo que era surda e fazia aquilo pra trabalhar. O que me faz pensar que tudo aquilo é um circo é a forma como cada parte do cenário, cada figurino é montado. A tal surda, e não duvido de que era mesmo já que conversava enfaticamente com alguém pela linguagem de sinais, empurrava um carrinho de bebê com um menininho de pouca idade. Ela tinha que levar o suposto filho pra lá? Bom, não conseguiu me convencer com esse truque barato, eu não compraria a caneta nem que tivesse o tal 'um real'.
Em outra ocasião, um senhor me pediu uns cebolitos que eu estava comendo. Eu dei alguns. Ele pediu mais, eu dei mais uns. Mas ele não se satisfez, queria o pacote inteiro. Desculpe, meu senhor, mas eu estava morrendo de vontade de comer cebolitos e por ninguém eu deixaria de fazer isso. Tá, que me custava dar meus salgadinhos pra ele? Mas ele também não podia ter feito aquela cara dele de reprovação, afinal, eu já estava repartindo a minha comida com ele e nem foi de tão má vontade.
Vendendo hora balas de goma, hora panos de prato, existe um homem sobre uma cadeira de rodas e sem as duas pernas. Muito educado, também.
Com o Centrinho da Usp, é facil encontrar mães com seus filhos leporinos, mas, certa vez, uma mulher tinha nos braços uma criança, juro, sem brincadeiras, verde-azulada. Eu não sei de quais males ela sofria, mas me chocou de um tal forma. Pequena, magrinha, com aparerencia fragilizada, olhos amarelados e aquela cor de pele inexistente. Nem quero imaginar outro desfecho senão que ele hoje esteja curado e com bochechas rosadas.
No auge das minhas aulas de fotografia, tentei tirar uma foto de uma familia que estava sentada nos banquinhos da frente, assistindo programa da Xuxa. Na verdade, o foco era um menininho de uns 2 anos de idade, que olhava pra mim e tentava pegar a minha camera, e a sua irmã, que o pegava no colo e rodopiava enquanto ele se esbaldava de rir. É uma pena que eu não domine muito bem a arte da velocidade e da abertura perfeita e as minhas fotografias não cheguem nem perto do que eu pretendia.
Em um dia péssimo da minha vida, daqueles que parecem encruzilhada de todos os problemas, depois de ter chorado, suspirado e decidido que a melhor solução era fugir daquela cidade, veio na minha direção uma moça de fala calma e com livrinhos na mão. Eu aceitei sua presença pensando que talvez, naquele exato momento, poderia ser alguma coisa que pudesse me ajudar, qualquer coisa... Nem que eu quisesse teria forças pra manda-lá embora. E ela me falou calmamente dos desejos do seu deus, me ofereceus coisas pra ler, falou coisas que eu nem lembro mais o que eram. Não me ajudou muito, é verdade, mas pelo menos eu tentei. E talvez ela tenha ficado satisfeita por ter encontrado alguma alma disposta a lhe ouvir.
Se eu não usasse allstar, já teria recebido alguma proposta dos engraxates. Se eu não tivesse senso de higiene, já teria me arriscado num salgado de qualidade duvidosa daquelas lanchonetes. Se eu não tivesse ótimo dominio da minha bexiga, saberia onde é que se esconde o banheiro, que tipo de papel higienico eles (na melhor das hipóteses) fornecem e quanto eles cobram pra lhe deixar entrar.
Não esqueço também das pessoas que se destacaram pelo modo de vestir, pentear, se portar... Mas isso é assunto deveras futil pra hoje.
Nossa, como faz tempo que eu não posto nada...