terça-feira, 12 de maio de 2009

Primeiro escuridão. Então luzes. São flashes e neons. Agora música. Alta o suficiente pra afastar pensamentos, a batida massageia os órgãos e convence o corpo a se deixar levar.
O olhar ao redor, procurando alguém que se destaque, o strobo faz ver em slow motion. Todos são mais bonitos do que à luz do sol. Todos são mais interessantes, descolados, bem vestidos. Os espelhos refletem os egos inchados, as poses, os fakes, os cabelos milimetricamente despenteados e as roupas propositalmente descombinadas. Todos dançam tentando convencer o próximo de que não se importam, como se não houvesse mais ninguém na pista.
Caminha até o bar. Procura no cardápio o maior teor alcoólico pelo menor preço. O copo é o ponto de equilíbrio, sem ele, os braços não sabem o que fazer. Um brinde alegre pela noite. O primeiro gole em baixo das sobrancelhas erguidas ainda buscando um alvo.
Encontra um lugar na pista. A música é qualquer uma artificial, não conhece e não quer saber. Dança no ritmo proposto com a face blasé dress code. Está quente e abafado, a fumaça dos cigarros, o ar condicionado fraco.
O drink termina. Precisa de outro. Desta vez um shot pra fazer efeito mais rápido e uma long neck pra manter-se. Mais alguns minutos na pista e o álcool começa a fazer efeito: a música melhorou, o humor está mais amistoso, surge um leve sorriso no rosto, o corpo dança com mais excitação. As investidas são menos tímidas e mais diretas. Encontra uns interessantes na multidão e monitora-os ao mesmo tempo.
São olhares, meneares de cabeça, movimento de cabelos... Demora um pouco, alguns sequer a notam, mas um deles caiu em sua isca. Finge um pouco de desentendida e realmente se pergunta qual o próximo passo a se tomar. Todas as possíveis reações passam por sua mente, a maioria pessimistas. Mas ele se encarrega e vem até ela. Uma conversa fatica na qual fingem não se ouvir pra poder aproximarem seus rostos, seguem o protocolo do nicetomeetyou, ele se oferece pra lhe trazer uma bebida. Depois dançam se exibindo e ela sente a mão dele posar em sua cintura, procura o rosto dele perto de seu cabelo com a mão por cima do ombro e ele a beija no pescoço. Ela se vira, leva seu nariz em direção ao dele mas antes que se toquem, ele já a beijou. Desajeitadamente sentem o gosto um do outro, estranham os gestos, forçam-se a se acostumar. Logo esgueiram-se para os estofados laterais e continuam a se conhecer. Esquecem completamente as companhias com que vieram e dedicam-se apenas um ao outro.
O tempo passa. Com ele, sussurrado ao pé do ouvido, um convite. Ela recusa a principio, mas sabe exatamente a hora de aceitar. Pagam suas comandas, pisam na calçada e um vento gelado arrepia seus braços. Colados andam até o carro.
O caminho curto é repleto de malícias, beijos rápidos e ardentes, mãos deslizantes e olhares sujos. Estacionam. Descem do veículo e usam-no como apoio para um abraço mais atrevido. Logo dirigem-se a uma porta de vidro e pedem um quarto no balcão.
Risinhos no elevador.

[continua]