sexta-feira, 6 de outubro de 2006

"Libera em meu organismo dopamina.Confunde meus sentidos como analgesicos. Prende-me como anestesia.Porque eu sei bem que me machuca, que me corta... Mas permito. E ainda formiga-me os lábios, assim, quase cócegas.Mas permito. Terei inchaço, terei restrições, terei cicatrizes... Mas permito.Coço a cabeça numa tentativa frustrada de compreender.E compreendo. Apesar de não crer.Então fecho os olhos e suplico que sua persuasão me convença. Imploro. E espero.Dessa forma, cenarios coloridos surgem. Palavras soam pseudo-ardentes (ainda estou cética). Minha boca de repente tem vontade de sorrir e de dizer as coisas mais insanas e convencionais (ainda). Por favor, eu penso, por favor, continuem, eu vou cuidar de cada ferida, eu não reclamarei de nenhuma má sensação, mas coloquem em mim esse novo sopro, eu preciso dessa esperança."

Eu disse que não ia reclamar. E não reclamei. Eu cuido eu mesma de todas as minhas feridas e as cicatrizes já são quase imperceptíveis. E querendo ou não, por mais que doa agora, eu não me arrependo e agradeço sempre a mim mesma por ter registrado pra mim mesma (e eu encontrei aqui parte do meu centro e parte das respostas pras minhas perguntas), pra mim mesma, o que eu senti. Porque sentimentos são voláteis demais. E eu preciso prende-los num vidro e colecioná-los numa prateleira pra poder contabiliza-los mais tarde.
Só porque eu gosto de contabilizar o meu proprio passado. (e talvez eu tenha internalizado um pouco dessa esperança)
Doeu. Doeu mesmo. Eu não queria admitir, mas toda a felicidade e euforia que eu tava sentindo sumiu muito rápido. E nem as músicas que eu gosto de ouvir me tiraram a sensação.
E eu ainda me pergunto por quanto tempo?
O meu unico consolo é saber que eu estive sempre certa, eu estive e estou certa o tempo todo. Eu já sabia de tudo isso. Eu continuo sendo uma ótima adivinhadora dos finais.
E me faz bem nunca ter tido outras ilusões. E saber desde o inicio que seria assim.
Eu sempre soube.
Eu dito e vocês, pessoas meramente previsiveis, executam.
Eu sempre soube.



*Pergunta pouco filosofica: quanto tempo demora pros vestigios físicos de uma pessoa desaparecerem por completo de sua vida? Todos os pelos, fios de cabelo, celulas, tecidos, fotos, e-mails, livros...?
E já nem me pergunto mais dos vestígios emocionais e psicológicos.